terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Conclusão do curso de Antropologia Visual





Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Centro de Artes Humanidades e Letras

Curso : Museologia

Disciplina : Antropologia Visual

Docente: Professora Angela Figueiredo

Discente : Maria de Fatima Pombo de Barros

Um Olhar em Movimento

Considerar a oposição entre tradição e modernidade é já uma herança moderna,uma vez que é em relação ao processo de ruptura inaugurado pela modernidade que os ideais em relação aos quais ela se demarcará são definidos como tradicionais tal como é em relação aos ideais de tradição que os projectos de ruptura em relação a esses ideais são definidos como modernos.”

Tradição e Modernidade”

Adriano Duarte Rodrigues

Universidade Nova de Lisboa

1997

Desde os tempos mais remotos registrar imagens é o impulso misterioso dos seres humanos; desde os habitantes da Pré-História, ate o momento atual, denominado de Moderno pelos intelectuais, essa prática direciona todo o comportamento nos diferentes sistemas étnicos e antropológicos.

A Fotografia desde a sua invenção mostra no “misterioso”, o movimento congelado de uma ação, a Fotografia registra e t ransforma este “mistério” em documento que possibilita o estudo no presente e no futuro de todo esse emaranhado de idéias, de ideais construído e constituído das obras humanas; o u seja o Homem esta no centro de toda essa atividade, de todo esse sentido do fazer e do existir.

O Olhar em Movimento sobre os meios de transportes em Cachoeira esta inserido num contexto social, antropológico que não poderia ser de outra forma senão esse : do homem e seus fazeres numa cidade “tombada”, de passado “histórico” e que vive um momento de transição entre o que foi e o que precisa ser para acompanhar a modernidade do tempo, sem perder suas tradições.

Quando a fotografa se estabeleceu na cidade da Cachoeira para fazer o bacharelado em “Museologia”, na UFRB, em 2009, uma das primeiras visões retratadas do cotidiano urbano da cidade citada foi esse comportamento do Homem e suas alternativas de locomoção, sejam com as carroças puxadas a cavalos, ou à mão, sejam com os carrinhos também puxados à mão, veículos utilizados quase sempre para transportar cargas, e as bicicletas e motocicletas que nas cidades interioranas do Brasil vêm substituido sistematicamente o uso dos cavalos, burros e jumentos ( este animal inclusive em estado de extinção) como formas de transporte social.

Observar e registrar esse comportamente fazendo um paralelo à modernidade em contrapartida ao comportamente antigo, ou seja “tradicional” é fazer um retrato da Vida Aqui e Agora e deixar para as futuras gerações de pesquisadores às suas próprias opiniões sobre este Olhar em Movimento.

Ao escolher entre tantas imagens capturadas na cidade da Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, desde novembro 2008 até o presente momento, (dezembro de 2010), os meios de trasnportes que são os fatores que mais nos dão uma visão direta e objetiva da pesquisa entre a modernidade versus tradição, a equipe quis fazer um recorte direto para demonstrar a v eracidade de sua pesquisa antropológica. Os contrastes entre os carros modernos, os ônibus, os caminhões, com as carroças puxadas a burro ou à mão, assim como os carrinhos e todos os tipos de engenhocas criadas para o transporte de cargas numa cidade de arquitetura colonial, ( por isso tombada como patrimonio histórico nacional), faz com que as imagens que são registradas através de uma câmara fotográfica nestes cenários, sejam únicas. E como disse Roland Barthes,( apud Koury) :“a fotografia , para surpreender, fotografa o notável,mas logo, por uma inversão conhecida, ela decreta notável aquilo que ela fotografa”, em seu livro “A Câmara Clara”.

Apesar da observação “verdadeira” de John Collier Jr in “ANTROPOLOGIA VISUAL. A fotografia como método de pesquisa”, em que ele diz : “Por razões diversas, os homens de hoje não são bons observadores e a grande capacidade de penetração da câmara pode ajudar-nos a ver mais e de forma mais acurada,” ainda assim é possível que sem uma intenção, sem um objetivo consciente e com um ser humano no comando, essa cãmara não fizesse sózinha um registro passar de geração à geração.

Esse trabalho de pesquisa em que foi sintetizado como “Um Olhar em Movimento”, que teve seu início em novembro de 2008, foi através de uma câmara Sony Cyber-shot f5.8-17mm 1:2. 8-4.8 de 7.2 mega pixels, porém esse equipamento foi substituído por um equipamento NIKON D5000, em março de 2010, por várias razões sendo a principal, uma melhor qualidade das imagens e do que se pretende fazer com o resultado da pesquisa que pode durar ainda uns bons cinco anos a frente. Não existiu em momento algum um horário definido para fazer as fotos, todas elas foram feitas em diferentes momentos de horas, em diferentes dias da semana; apesar de parecer como algo alienado, o resultado mostra outra definição, pois o cotidiano do ser humano nunca é uma alienação, tudo existe porque existir É.

Um outro ponto fundamental para o pesquisador que se utiliza de registros fotográficos em seu trabalho é, quando se depara com a quantidade de imagens capturadas, e o que fazer na hora de escolher uma entre outra. O que fica de fora? O que é mais importante no momento da escolha? O que fazer com aquelas imagens que nunca serão vistas pelo olhar do outro? Perguntas muitas vêzes impossíveis de terem respostas imediatas.

Algo que chamou a atenção da fotógrafa foi a quantidade de mulheres e crianças usando o cavalo como meio de locomoção. Elas, às mulheres e às crianças, vêm da área rural para abastecerem do que ali , na sua vida rural, é deficiente para seu dia a dia. Assim é muito comum que a imagem fotográfica registrada dos personagens a cavalo, ou burro ou jumento esteja ali, em frente a um estabelecimento comercial, seja farmácia, padaria ou mesmo casa de produtor rural, assim como o Correio. As imagens dos carroceiros e daqueles que usam o carrinho de mão para levar as feiras para as casas dos seus compradores já tem um outro significado. Na sua maioria essas pessoas residem na periféria da cidade e trabalham com esses veículos para darem sustento a si e suas famílias.

Para finalizar esse trabalho fica aqui um adendo do professor da Universidade Federal da Paraíba, Mauro Guilherme Pinheiro Koury , paragráfo do texto “A fotografia como ampliação das narrativas de um povo ou cultura”, in “Os pesquisadores frente a um olhar da fotografia nas Ciências Sociais no Brasil” :

Nessa via, a fotografia é vista como uma fonte fundamental, de uma realidade estudada, e que não está mais presente. É vista como um real que não mais existe ou que se diferenciou com o tempo.”p.47


Bibliografia :

RODRIGUES, Adriano Duarte. “Tradição e Modernidade” Universidade Nova de

Lisboa, 1997

BARTHES, Roland. “A Câmara Clara”

JR, John Collier. “Antropologia Visual: A fotografia como metodo de pesquisa”

Editora Pedagógica e Universitária Ltda

Editora da Universidade de São Paulo

São Paulo 1973

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. “Os pesquisadores frente a um olhar e ao

uso da fotografia nas Ciências Sociais no

Brasil”

Cadernos de Antropologia e Imagem

Programa de Pos-Graduação em Ciências [PPCIS]

Núcleo de Antropologia e Imagem [NAI]

Universidade do Estado do Rio de Janeiro[UERJ]



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