sexta-feira, 28 de junho de 2013

Antropologias recifenses

Ela já estava no ônibus quando eu entrei. Afastou-se silenciosa para eu sentar na cadeira da janela. Já corríamos um bom trecho quando entabulamos conversa. Ela me disse que era gaúcha. Senhora, cabelos brancos, negra, vestida impecavelmente e na lapela da blusa um botton com o nome Sister Pádua. Eu disse que era baiana. Depois que o bus saiu do perímetro do centro ela perguntou: "Estou muito longe do centro?" Respondi, -"o centro foi aonde eu subi no ônibus, minutos atrás." Ai todos nesta hora queriam ajudá-la a descer num melhor ponto para retornar. Cada um dizia uma coisa, menos o motorista. Ela desceu. Eu continuei, indo em direção da minha aula de Ikebana Sanguetzu, vivificação da flor. Arranjo com flor natural. Duas horas depois, estou eu dentro de outro ônibus, retornando ao meu ponto de origem, cujo itinerário nada tem a ver com o anterior, quando de repente da janela eu vejo ela, a Sister Pádua, proseando com outra senhorinha, em pé, num ponto de ônibus, quiçá esperando algum bus para perambular pela cidade. As pessoas idosas fazendo turismo gratuito? Ou fugindo de suas casas, cujos jovens netos/netas, ou filhas/filhos não aguentam as suas presenças/////////////////////////////////////////////?

sábado, 22 de junho de 2013

Antropologia em Recife

Eu estava em um ônibus indo do bairro da Piedade para o bairro do Rosarinho. Sentada. Tranquila. Eu estava indo para a minha primeira aula de Ikebana, de estilo Sanguetzu, estilo do Mokite Okada .Numa parada do bus da praia da Boa Viagem sobe um senhorzinho. Engraçadinho de aparência, elegante, bem humorado. Em determinado momento da viagem ele se vira para mim e diz: "- a senhora ficou ai, no Sol? eu respondo : -" para facilitar que o Sr. se sente, sem apertos." Ele acha graça e por um tempo fica calado. Não se aguentando mais do silencio reinante ele desanda a falar. Conta que está aposentado, que teve nove filhos, todos maravilhosos, todos em bons empregos, que tem oito netos e dois bisnetos, e diz que nada mais interessa para ele, que repassou tudo que acumulou para os filhos, até uma empresa. Que não gosta de andar de carro, só sai de casa de bus. E que sai de casa para comer coisas gostosas nos restaurantes. Olhando para o relógio do pulso ele diz: "- esta vendo a hora? 13:05hs. horário que a minha mulher está indo para a mesa almoçar. Eu sai de fininho do apartamento sem ninguém me ver. Hoje quero comer uma comida chinesa, num restaurante do Shopping da Boa Vista. Eu tenho 87 anos e não aguento a comida da empregada lá de casa, embora ela esteja lá mais de vinte cinco anos. Ela só faz os gostos da minha mulher. Diz que ela não pode comer sal, temperos, açúcar, etc. E os filhos fazem todos os gostos da mãe, até dinheiro dão para ela." Ai eu perguntei : -"E ela trabalhava fora de casa?" Ele respondeu bem categórico: "- NÃO! Eu queria uma mulher para tomar conta da minha casa e não para sair de casa!"